ESTE ANO, OS ECONOMISTAS PERCEBERAM FINALMENTE O QUE JÁ TODA A GENTE TINHA COMPREENDIDO SOBRE O COMÉRCIO-LIVRE
Esta semana, Noah Smith da Bloomberg, publicou uma lista de 10 excelentes livros de economia que leu em 2016. O nº 3 da lista é “The China Shock: Learning from labor-market adjustment to large changes in trade”, dos economistas David Autor, David Dorn e Gordon Hanson. Eis o resumo:
Este é o trabalho que abalou o mundo dos economistas. Através do estudo de dados locais, os autores descobriram que as importações de produtos chineses foram devastadoras para os trabalhadores americanos da manufactura. As pessoas que perderam os seus empregos devido ao Choque Chinês, não encontraram novos empregos. Em vez disso, sujeitaram-se ou a cortes drásticos no seu vencimento ou a depender da S.S. Os autores sustentam que o Choque Chinês foi tão forte que reduziu os números gerais do emprego nos EUA. Este trabalho desferiu um sério golpe no consenso sobre comércio-livre, entre os economistas.
As conclusões de N. Smith estão absolutamente certas. O espanto dos economistas a respeito do livro e das suas revelações foi profundo e abrangente. Isso levanta a questão que muitos de nós já andamos a colocar há muito. Por que razão os economistas mainstream são as últimas pessoas a perceber as consequências das políticas que advogam??
Durante os debates à volta da legislação do Congresso sobre o pacto comercial com a China em 1999 e 2000, os sindicatos, os especialistas sobretudo os do Economic Policy Institute e outros grupos, previram com total clarividência a perda de empregos que se seguiria, se essa legislação (PNTR) passasse. Previram também a incapacidade de gerar novos empregos, e em muitos casos, também as alterações políticas nos estados que caíram na rápida desindustrialização, sobretudo no Midwest, mudanças essas que só acabaram de se manifestar plenamente em Novembro.
Mas para os sumo-sacerdotes da economia mainstream, os Robert Rubin e os Timothy Geithner que aconselharam as administrações Clinton e Obama, essas opiniões eram tidas como marginais, egoístas e nem mereciam atenção…
A lição disto tudo é que a economia mainstream tem de ser vista cada vez menos como uma disciplina científica e mais como uma elegante repetição das orientações globais dos poderes financeiros dominantes. Ao apoiar a eficiência dos mercados, a desregulação e ao assumir que o comércio com grandes nações em processo de industrialização e com salários de miséria, não teriam efeitos devastadores no mundo do trabalho americano… a linha de pensamento económico americano mainstream reduziu-se a pouco mais de uma seita ao serviço dos deuses de Wall St.
Os dissidentes, de Stiglitz a Dani Rodrick, Dean baker, Jared Bernstein e a equipa do Global Trade Watch, desde Thae Lee a Mark Levinson da AFL-CIO e aos sindicatos dos trabalhadores têxteis, a Clyde Prestowitz e seu instituto, até às páginas do American Prospect, todos eram considerados como afogados em propaganda e andavam a fingir ser economistas.
Agora que os empregos desapareceram e que a desregulação originou um colapso e uma dolorosa recuperação muito parcial, a fantochada acabou, ou melhor, deveria ter acabado. O ponto central dos defensores da política do Trickle Down é apenas apressá-la para chegar ao fim previsível.
Nota: Trickle Down é a teoria segundo a qual os governos devem fazer chegar grandes somas de dinheiro aos mais ricos e aos grandes bancos, para assim desenvolver a economia. As vantagens acabariam por chegar mais tarde ou mais cedo aos outros grupos sociais ( a uns muito mais que a outros, naturalmente).
Maude Barlow, Harold Meyerson da American Prospect Organization
Tradução e adaptação de Manuel Fernandes