“Os EUA contam com uma grande
abundância de gás e petróleo a prazo”
ShaleBubble, 10/04/2015,http:// shalebubble.org
Tradução e adaptação de José Oliveira
Falsas promessas
Nos anos recentes, os americanos ouvem que o país irá readquirir o
seu papel como maior produtor mundial de petróleo e gás, graças ao
alargado uso das perfurações horizontais e da fractura hidráulica ou
fracking. Esta revolução do gás de xisto, dizem-nos, irá alterar
decisivamente o quadro energético americano para as próximas décadas,
levando a uma independência energética, ao renascimento das indústrias
manufactureiras e a um superavit tanto de petróleo como de gás que
poderá ser exportado para os aliados espalhados pelo mundo. Estas
promessas de abundância energética estão a influenciar as políticas
climáticas, as políticas estrangeiras e os investimentos em fontes
alternativas. A principal fonte dessas expectativas douradas reside no
US Department of Energy’s Energy Information Administration (EIA).
Mas, e se as previsões estiverem erradas??
A realidade
A realidade é que as previsões governamentais de longo-prazo, aquelas
onde todos se baseiam para conduzir as políticas e o planeamento, são
exageradamente optimistas. Uma análise exaustiva ponto por ponto aos
12 maiores campos de gás dos EUA, responsáveis por 89% do crude e 88%
do gás de xisto, conclui que tanto a produção de gás como de petróleo
terá o seu pico ainda nesta década e depois declinará progressivamente
para uma pequena fracção da produção actual em 2040.
Os campos de gás sofrem de uma taxa de declínio muito alta, bem como
de declínio da qualidade do produto, à medida que os poços secam. Isto
significa que cada vez mais poços terão de ser perfurados apenas para
manter a produção, até se chegar a um ponto onde nem isso será mais
possível. A continuação da perfuração exige massivos investimentos de
capital que só podem ser suportados por altos níveis de dívida ou pela
escalada dos preços.
Lucros em queda
Os campos de gás altamente produtivos não existem em qualquer lado e
os poços sofrem de níveis muito rápidos de exaustão. Devido às altas
taxas de secagem dos poços e da sua crescente falta de produtividade,
a indústria é obrigada a perfurar cada vez mais poços, apenas para
mascarar o declínio. Para manter os níveis de exploração, é preciso
que os preços subam exponencialmente ou então, as indústrias terão de
se endividar, coisa que não é sustentável.Se o futuro da produção de
gás e petróleo no longo-prazo depende do acesso a depósitos mais
profundos, como afirma o Departamento de Energia, então estamos a
caminhar para um grande fiasco.
Descobertas decisivas: perfurar ainda mais fundo
Uma avaliação realista dos prognósticos do governo para um boom
durável na produção de crude e gás, terá de investigar se as
expectativas do Departamento de Energia sobre a abundância desses
combustíveis é fundamentada ou não. Procurará avaliar da possibilidade
futura da produção, baseada na avaliação da perfuração a grande
profundidade (2 a 3 Km) com dados recentes dos maiores campos de gás.
O relatório determinará perfis futuros de produção, níveis de
perfuração, qualidades médias de produção por cada poço, níveis de
declínio e uma estimativa sobre o nº de novos poços possíveis. Este
relatório foi elaborado por J. David Hughes em nome do Post Carbon
Institute, instituição que tem por objectivo lidar com a transição
para um mundo mais resiliente, equitativo e sustentável,
proporcionando às comunidades e aos indivíduos os recursos necessários
para compreender e dar resposta às crises ecológicas, energéticas e
económicas do séc XXI.
Sumário por Asher Miller, director executivo do Post Carbon Institute:
(…)Como foi dito, a fonte principal das expectativas douradas vem do
DOE que publica o seu relatório anual através da Energy Information
Administration (EIA), chamado Annual Energy outlook (AEO) que refere
uma série de previsões sobre a produção, consumo e preço da energia.
O de 2014 prevê que a produção americana de crude suba a 9,6 milhões
de barris/dia em 2019 e depois decline progressivamente para 7,5
milhões em 2040. A previsão para o gás aponta para um crescimento nos
próximos 25 anos e atinja 37,5 triliões de pés cúbicos/ano em 2040
(…).
O nosso relatório baseia-se na produção dos maiores 7 campos
produtores de gás e petróleo e conclui que o actual boom de produção
de crude e gás é insustentável ao nível das previsões da EIA., sendo
estas extremamente optimistas (…). O que isto significa é que as
actuais políticas energéticas, largamente baseadas na superabundância
do petróleo e do gás doméstico no futuro, são muito mal orientadas,
conduzindo o país a um choque doloroso, caro e inesperado, quando
acabar o boom.
Os registos medíocres da EIA:
Os políticos, os media, os investidores e o público em geral recebem
as previsões da EIA com pouco cuidado, apesar do seu percurso
medíocre. Em 2011, a EIA foi forçada a rever em baixa acentuada as
previsões do campo Marcellus (o melhor) em cerca de -80% e as da
Polónia para -99%, após o US Geological Survey ter publicado números
bastante mais baixos (…).No início de 2014, a EIA também fez cair as
suas estimativas sobre o crude da California’s Monterey Formation para
-96%. Três anos antes, a agência havia previsto que esse campo
produziria 2/3 de todo o crude americano (…). A revisão em baixa da
EIA ocorreu após o autor deste estudo, J.David Hughes ter publicado
uma análise 6 meses antes que mostrava como as previsões da EIA eram
super-optimistas,e usando apenas os números da Monterey Formation.
Usando unidades de triliões de pés quadrados, a previsão da EIA da
produção de gás do campo Marcellus baixou de 410 para 84 e da Polónia
passou de 187 para 1,3. Sobre o crude de Monterey e usando a unidade
de 1 bilião de barris, a previsão baixou de 15,4 para 0,6 (…)
Outros dados importantes
(…) Em 2040 as taxas de produção petrolífera dos campos Bakken e
Eagle Ford serão menos 1/4 do que a projecção da EIA. Também em 2040,
as taxas de produção de gás dos melhores campos serão apenas 1/3 do
previsto pela EIA. Para que os sete melhores campos estivessem à
altura das estimativas da EIA, a sua produção teria de quadruplicar.
No curto prazo, a produção americana de crude e gás será substancial,
mas uma revisão criteriosa dos números revela que tal não será
sustentável a prazo. Estes dados têm profundas implicações nas
políticas domésticas e estrangeiras que, em geral, assumem décadas de
abundância de gás e crude.
Outros factores limitativos são os protestos públicos em resultado das
preocupações ambientais e de saúde, bem como os constrangimentos de
capital que afectam os preços e os juros. Tais factores não foram
incluídos nesta análise, logo, o presente relatório apresenta o melhor
cenário possível (…)
Quanto ao gás, a taxa de declínio dos melhores campos varia entre 28%
e 49%, significando que entre 1/4 e metade da produção terá de ser
substituída todos os anos apenas para manter o nível de produção
(…).
A produtividade de todos os poços estagnou com excepção do Marcellus
que subiu ligeiramente.
Em 2040, seriam precisos 130.000 poços adicionais para chegar à
previsão da EIA, a somar aos 50.000 de 2013. Se assumirmos um custo
médio de 7 milhões por cada um, tal requeria um adicional de 910
biliões de capital novo, sem incluir o leasing, juros e outros custos
associados.