Um artigo lançado em Novembro de 2019 pela organização Grains.org denuncia como o acordo UE-Mercosul é extremamente prejudicial para o ambiente e uma ameaça à luta contra as alterações climáticas. Numa altura em que os estados, principalmente os países da União Europeia, se comprometem no acordo de Paris para atenuar o aquecimento global, é de estranhar que se encontrem paralelamente a negociar acordos de comércio internacionais que irão fazer o contrário do que propuseram, estimulando as emissões de dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa através de um comércio tóxico e perigoso para todos.
Partilhamos aqui alguns pontos da análise feita pela Grains.org sobre o UE-Mercosul:
- A previsão de aumento das emissões provenientes do comércio bilateral dos oito principais produtos agrícolas contemplados no acordo é de um terço (34%). Faltando ainda uma análise sobre o sector automóvel e outros produtos abrangidos neste acordo.
- As exportações de carne bovina do Mercosul para a UE serão a maior fonte de novas emissões (82%).
- A pegada climática da UE resultante das exportações de produtos alimentares para o Mercosul pode quintuplicar.
- Embora os países do Mercosul venham a gerar a maior parte destas novas emissões, as emissões resultantes do crescimento das exportações apenas de produtos lácteos da UE para o Mercosul aumentarão 497%. Faltando ainda validar as emissões provenientes da indústria automóvel, o principal sector a exportar da Europa com este acordo. Importante referir que os países do Mercosul já têm por si mesmos uma indústria de produtos lácteos bastante desenvolvida, neste âmbito a Europa não irá exportar produtos novos, pelo contrário.
- 74% dos pesticidas usados nas indústrias de cana-de-açúcar do Brasil são proibidos na Europa e o Brasil acaba de aprovar uma variedade de cana-de-açúcar geneticamente modificada que é proibida na Europa.
- O governo do Brasil permite o uso de glifosato antes da colheita para acelerar a maturação, quando muitas cidades e países europeus estão a lutar para obter a proibição total do glifosato. Isto significa que os OGMs indesejados e os produtos químicos agrícolas são suscetíveis de entrar na UE sob a cobertura deste acordo.
- Os governos da UE podem acabar por causar mais destruição climática no exterior para cumprir suas metas climáticas em casa. O aumento das importações de etanol pela UE através do TLC seja usado para atingir as metas de combustível “verde” para o transporte na Europa. O aumento das importações de produtos de soja mais baratos, que poderiam tornar-se uma matéria-prima atraente para a indústria de biodiesel da Europa, poderá levar a mais desflorestação e apropriação de terras em países como o Brasil.
- Os acordos comerciais são poderosos impulsionadores da expansão do sistema alimentar industrial, que, segundo o Painel Internacional sobre Mudança Climática, é responsável por até 37% das emissões globais de gases de efeito estufa.
- Os lobistas dos diferentes setores envolvidos, das sementes aos supermercados, têm pressionado os governos a assinar e implementar estes pacotes há décadas. Eles dão às empresas agroalimentares e aos agricultores fornecedores das grandes redes de hipermercados maior alcance de mercado e direitos de investimento – uma oportunidade de obter mais lucros. Por sua vez, a expansão do sistema alimentar industrial cria uma enorme pressão sobre o nosso clima.
A Grains é uma pequena organização internacional sem fins lucrativos que trabalha para apoiar pequenos agricultores e movimentos sociais nas suas lutas por sistemas alimentares controlados pela comunidade e baseados na biodiversidade.
Podem ler o artigo completo aqui.
Apelamos para que a União Europeia abandone as negociações deste acordo. Envia um email ao Primeiro Ministro e Ministro dos Negócios Estrangeiros a pedir para não ratificarem o acordo UE-Mercosul aqui.
Se fizeres parte de alguma associação/colectivo assina um apelo para impedir o avanço deste acordo aqui.