A Monsanto produz sementes de soja, cereais, canola, algodão, alfafa, cana-de-açúcar, maçãs, brócolos, batata, eucaliptos, etc, cujas sementes são geneticamente modificadas para tolerarem o herbicida Roundup. Muitas destas sementes estão patenteadas em mais de 120 países e, pelo mundo fora, o Roundup é disseminado sem receio de prejudicar as colheitas concebidas para sobreviver aos seus efeitos(…).
A princípio, o Roundup parecia o herbicida perfeito (como o DDT). Funciona através do bloqueio da enzima ESPS que impede a síntese dos aminoácidos de que a planta precisa para crescer. Uma vez que os animais não têm essa enzima, pensou-se inicialmente que estariam a salvo dos efeitos do produto. Infelizmente, sabe-se hoje que o Roundup afecta muito mais que a tal enzima. Está demonstrado que o herbicida produz defeitos de nascença nos vertebrados, incluindo humanos e está ainda na origem de doenças renais por vezes fatais. Um nº crescente de estudos estabelece a relação entre o herbicida e o cancro.
– O Roundup ligado ao disparo do cancro na “República da Soja”
O Roundup é espalhado intensamente na zona conhecida por República da Soja, uma vasta área da América Latina maior que o estado da Califórnia. A região passou por profundas transformações desde que as sementes geneticamente modificadas foram introduzidas em 1996. Cerca de 125 milhões de acres na Argentina, Brasil, Bolívia, Uruguai e Paraguai estão hoje dedicados à produção de soja transgénica.
Os médicos desta zona têm registado aumentos alarmantes das taxas de cancro. Um grupo de cientistas formou uma organização chamada “Médicos para as Cidades Contaminadas” e realizaram uma conferência em 2010 em Córdoba, Argentina, centro da região da soja. O médico Medardo Avila Vasquez, pediatra especializado em questões ambientais explica: “As mudanças na agricultura produziram alterações no perfil das doenças. Passou-se de uma população relativamente saudável, para altas taxas de cancro, defeitos neonatais e outras doenças outrora raras. Aquilo que temíamos confirmou-se, especialmente nas áreas afectadas pela agricultura industrializada. Os casos de cancro têm-se multiplicado como nunca antes, em áreas onde o uso dos pesticidas é massivo.
As companhias de tabaco sempre negaram a ligação entre o fumo e o cancro. Os gigantes da agroquímica fazem o mesmo: mentem a favor do negócio contra a saúde das populações. O prof. Damien Verzenassi em 2010 comprovou que as taxas de cancro eram 2 a 4 vezes mais altas que a média nacional (cancro da mama, próstata e pulmões). Nas aldeias mais atingidas o nº de doentes de cancro chega a atingir 31% da população.
Inúmeras pesquisas nos EUA, Canadá, Europa, Austrália, N. Zelândia, etc, têm mostrado as ligações do glifosato (um dos principais ingredientes do Roundup) com o cancro. Os cientistas da Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro andam a estudar o problema há décadas. Esta agência encara o cancro como uma doença directa ou indirectamente ligada a factores ambientais. Em Abril de 2014 esta agência publicou um estudo sobre uma pesquisa de 25 anos acerca das relações entre a exposição aos pesticidas e o linfoma non-Hodgkin e encontraram uma ligação clara entre o glifosato e este tipo de cancro. Em particular, a célula B do linfoma estava fortemente associada à exposição ao glifosato. Mas este caso é apenas um dos muitos.
A Agência para as Substâncias Tóxicas e de Registo de Doenças, ramo do Departamento Americano da Saúde e Serviços Humanos e especializada em doenças causadas por substâncias tóxicas, publicou estudos sobre o cancro infantil do cérebro em 2009. Os investigadores descobriram que no caso de os pais terem sido expostos ao Roundup nos 2 anos anteriores ao nascimento, as respectivas crianças tinham o dobro das probabilidades de contrair a doença. Embora os estudos evidenciem uma clara correlação, de facto, ainda não se pode provar o nexo de causalidade, uma vez que não seria ético submeter humanos a experiências onde arrisquem a vida, expondo-as aos herbicidas.
Uma das pesquisas demonstrou os danos que o Roundup causa ao ADN, sobretudo na divisão celular. O ADN passa a dar instruções caóticas às células e, quando isso acontece, transforma-as em cancros. Todos os testes em animais mostram o mesmo padrão: danos no ADN, tal como ficou provado em larvas da mosca da fruta, ratos, células de enguias e em linfócitos de vacas. Aquando da divisão celular, as instruções do ADN têm de ser passadas de modo idêntico a cada célula nova. Se há um erro na transmissão, as células com ADN errado transformam-se em cancros. Mais grave ainda, as concentrações de Roundup necessárias para produzir estas anormalidades eram 500 a 4000 vezes mais baixas do que aquelas a que os homens são expostos ao disseminarem os herbicidas.
O Dr. Fernando Manas, biólogo da Univ. de Rio Cuarto, Argentina, tem investigado os efeitos dos pesticidas durante anos. Os trabalhadores que espalham esse produto mostram significativos danos no ADN dos seus linfócitos, sobretudo devido ao Roundup, o mais usado.
Também no Equador, nas áreas mais sujeitas aos pesticidas, os trabalhadores sofrem de fortes dores abdominais, vómitos, diarreia, febres, problemas cardíacos, dores de cabeça, tonturas, insónia, depressão, dificuldades respiratórias, problemas de visão e outros sintomas por vezes agudos. Todos mostram significativos danos no ADN. Desde 1998 que os cientistas sabem que os linfócitos expostos num tubo ao Roundup desenvolvem graves danos no ADN.
Uma experiência em 2010 na Índia evidenciou que células da pele de ratos expostas ao Roundup tornaram-se cancerígenas. Em 2013, na Tailândia, cientistas provaram que as células do peito sensíveis ao estrogénio, se expostas ao produto, também desenvolviam cancro, pois actua como um processo acelerador. O Roundup pode também duplicar a incidência do cancro da mama, entre outros. O processo não tem fim….
Comentário
É com certeza por terem amplo conhecimento de todas estas e outras situações que os donos da Monsanto, da Dupont e das outras produtoras de OGM têm travado uma batalha tão intensa para impedir a rotulagem dos seus produtos
Jeff Ritterman, TruthOut, 06/10/2014
Tradução, adaptação e comentário de José Oliveira