Milhões de abelhas morreram na província de Ontário, Canadá, desde que foi plantado, há alguma semanas, milho transgénico. O caso foi denunciado por um dos produtores locais de mel, Dave Schuit, ao site ‘Organic Health‘. Só este agricultor perdeu 600 colmeias, o equivalente a 37 milhões de abelhas.
Os criadores de abelhas dizem que a culpa da morte das suas colónias se deve aos neonicotinóides, especialmente o imidaclopride e a clortiamida (ambos da multinacional agroquímica Bayer), que são pesticidas geralmente aplicados em sementes e em tratamentos das plantas, que acabam por penetrar no pólen e no néctar.
Está mais que provado que estes pesticidas são responsáveis pela morte de abelhas, provocando-lhes uma doença chamada distúrbio do colapso das colónias. O portal online Notícias Naturais lembra o que “estudo publicado na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências, revelou que os pesticidas neonicotinóides matam as abelhas por danificar o seu sistema imunitário e torná-las incapazes de combater doenças e bactérias.”
Em Dezembro de 2013, três destes pesticidas foram, durante dois anos, proibidos na União Europeia. «A CE invocou o princípio da precaução e divulgou, em 24/5/13, a proibição, durante dois anos, desde 1/12/13, dos três neonicotinóides em tratamento de sementes, em microgrânulos aplicados ao solo ou em tratamento foliar de plantas atractivas para abelhas, incluindo milho, colza, girassol, algodão e cereais, excepto cereais de Inverno», como explica Pedro Amaro, professor catedrático jubilado do Instituto Superior de Agronomia, neste artigo de opinião.
Na mesma altura, a Agência Europeia de Segurança Alimentar (AESA), divulgou um estudo anunciando que os pesticidas que matam abelhas também fazem mal aos humanos: «O parecer da AESA resulta de um pedido da Comissão Europeia, feito em Novembro de 2012, depois de um novo estudo ter sugerido riscos daqueles pesticidas para o ser humano. Realizado por investigadores do Instituto de Ciências Médicas de Tóquio e publicado na revista científica PLOS One, o estudo avaliou o efeito dos insecticidas acetamiprida e imidaclopride em células nervosas de ratos. A conclusão foi a de que ambos podem afectar o desenvolvimento do cérebro, tal como a nicotina. À luz dos novos dados, a AESA reavaliou toda a produção científica existente e, embora haja muitas incertezas, chegou à mesma conclusão. “Ambos os compostos podem afectar o desenvolvimento e a funcionalidade dos neurónios”, sustenta a agência, no seu parecer, referindo-se às células que são a base do sistema nervoso.»
O TTIP tem por base a harmonização de regulamentos e o seu reconhecimento mútuo. Isto implica a possível extinção do princípio da precaução a partir do qual a regulamentação alimentar Europeia se construiu e do qual a soberania alimentar dos europeus depende.
Que consequências terá para a saúde dos europeus, das abelhas, da produção de alimentos e dos ecossistemas uma decisão que anule a proibição do uso dos neonicotinóides e a massificação de plantações agrícolas com organismos geneticamente modificadas? Avaliar pela notícia da morte de 37 milhões de abelhas por causa de uma plantação de milho geneticamente modificado, nada de bom.
Pedro Santos