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O TTIP procura levantar a proibição americana de exportar crude e gás

O TTIP procura levantar a proibição americana de exportar crude e gás

O TTIP procura levantar a proibição americana de exportar crude e gás

No início deste ano, os activistas exultaram com uma vitória histórica quando Obama usou o seu veto para bloquear a aprovação do pipe-line Keystone XL que se propunha transportar o crude das areias de xisto canadianas para as refinarias na costa do Golfo do México.

A batalha está longe de terminada. Os republicanos continuam a forçar a sua aprovação, mas a decisão de Obama tem um profundo significado estratégico na luta pela conservação das energias fósseis no subsolo. Contudo, o drama do Keystone XL será apenas um aspecto parcelar relativamente às ambições do BIG OIL: ultrapassar a proibição de exportar crude.

Na UE, os barões do petróleo acabam de achar um aliado improvável. A UE pediu explicitamente aos EUA para levantarem as restrições à exportação não apenas do crude, mas também ao gás natural liquefeito (LNG), constituindo este um dos objectivos centrais nas conversações entre a UE e os EUA, no âmbito do TTIP.

O anterior Comissário do Comércio Karel de Gucht chegou a afirmar: “Não consigo imaginar que o TTIP venha a efectivar-se sem este capítulo da energia”.

Com as negociações do TTIP a resvalar em muitos aspectos, aqueles que as querem forçar estão muito preocupados em evitar controvérsias acrescidas. Hiddo Houben, um dos principais negociadores, declarou à Comissão Parlamentar da Indústria e Energia na reunião de 06/05/2015 do Parlamento Europeu: “Nós estamos longe dos media, tentando prosseguir estas discussões com os EUA. Somos muito cuidadosos ao tentar evitar os comentários públicos sobre este assunto porque sentimos que é mais adequado tentar negociar isto com eles longe do olhar do público”.

Se a remoção das restrições é assim tão imperativa, porque haverá assim tanta aversão ao escrutínio público e dos media?

O argumento dominante a favor de tais medidas é que as companhias americanas beneficiam neste momento de baixos custos de energia como resultado da revolução das areias de xisto. Ao abrir o mercado americano do gás, isso iria baixar os preços na UE e permitir aos fabricantes europeus competir em maior igualdade. A UE também está neste momento altamente dependente da Rússia em termos energéticos. No quadro de uma tensão em escalada existe uma crescente urgência em diversificar as fontes de abastecimento e o TTIP poderia proporcionar isso mesmo.

Em teoria isto parece razoável, mas levanta muitas preocupações. Em primeiro lugar, a questão económica e geopolítica não é tão clara como os seus defensores querem fazer crer. Em segundo lugar – e este é o maior problema – há o impacto que isso tem no clima.

Se os decisores europeus acham útil ajoelhar e pedir uma inundação de energia americana barata que nos livre da ambição de Putin, bem, têm liberdade de fazê-lo. Mas poderiam empregar melhor o seu tempo se investigassem melhor a logística. Os EUA não têm infraestruturas necessárias à exportação do LNG em larga escala para a Europa. O desenvolvimento de tais infraestruturas sairia muito caro e demorado. Depois de finalmente concluído, o processo de liquefação e transporte do gás não fica nada barato. Assim, há poucas razões para pensar que o gás americano poderá competir com os baixos preços do gás russo no futuro próximo. E esta continuará a ser a ordem das coisas nas próximas décadas.

Mesmo se fossem levantadas todas as restrições, a energia americana barata continuaria a ser o que é, pouco mais que um sonho.

Se a segurança energética e o seu preço fossem de facto uma preocupação para os decisores políticos europeus, então deveriam inclinar-se para muito melhores opções, tais como medidas ambiciosas de eficiência energética que se estima poderiam poupar algo como 550 biliões de Euros em 2030.

As implicações climáticas de nos tornarmos uma colónia do fracking são muito graves. De facto, segundo as melhores avaliações do TTIP, o tratado resultará num nítido aumento das emissões de CO2 tanto na Europa como nos EUA.

O aumento da procura europeia levará necessariamente à expansão da exploração do gás de xisto nos EUA e à abertura de novos poços com a consequente emissão de gazes com efeito de estufa. Também parece provável que a maior parte do crude a exportar viria dos campos de areias betuminosas do Canadá, trazido para os EUA através de via férrea ou por pipe-line do tipo Keystone XL. Estas áreas das areias de xisto com os poços pululando pela vastidão da província de Alberta, numa área semelhante à Inglaterra, já foram descritas como a “maior bomba-relógio de carbono do planeta”. E a UE parece determinada em fornecer o detonador.

Se queremos evitar os mais severos impactos das alterações climáticas, 80% das nossas reservas de combustíveis fósseis têm de permanecer no solo. Não há desculpas para que a UE continue a pressionar medidas inclusas num tratado que aumentará os investimentos na exploração de combustíveis fósseis, seu processamento e transporte, aumentando assim a proporção de energia poluente para o futuro próximo. Com tanto em jogo, os decisores políticos não podem continuar a trabalhar como se não tivessem de lidar com considerações ambientais.

The Guardian, Sam Lowe, 03/07/2015

www.theguardian.com/environment/blog/2015/jul/03/us-oil-export-ban-ttip-lifting-rise-carbon-emissions

Tradução de José Oliveira