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Os tratados corporativos que ameaçam os cidadãos em 2016

Os tratados corporativos que ameaçam os cidadãos em 2016

Os tratados corporativos que ameaçam os cidadãos em 2016

Os media corporativos não se referiram aos perigos dos tratados amigos das multinacionais durante o ano de 2015, apesar da crescente oposição das organizações de base… e do aumento da consciência dos cidadãos…

“Se continuarmos o nosso trabalho e fizermos progredir este movimento, estaremos a construir um novo modelo de comércio que coloca os interesses das comunidades e do ambiente acima dos interesses das corporações multinacionais. O nosso objectivo de curto-prazo é parar estes acordos nocivos. No longo-prazo temos de continuar a reforçar o nosso movimento de modo tão eficaz que os governos pensarão ser impraticável permitir regras que ataquem o ambiente e as políticas públicas, dada a resposta das pessoas ser demasiado exigente”, declarou Ilana Solomon do Sierra Club.

Eis os tratados que compõem a luta de 2016:

– Trans-Pacific Partnership (TPP) = EUA+ 11 países do anel do Pacífico

Foi um dia de vitória para as corporações americanas quando o Senado aprovou o Fast Track ou Trade Promotion Authority em Junho, retirando assim aos políticos a capacidade de debater em detalhe ou sequer de introduzir alterações ao TPP que vinha sendo negociado no maior secretismo. E, quando o texto do tratado foi finalmente publicado neste Outono, confirmaram-se os piores receios, disseram os ambientalistas, os defensores da saúde pública e os activistas dos direitos digitais. Afirmaram mesmo que o TPP “é pior do que qualquer coisa que pudéssemos imaginar”.

Graças ao Fast Track, Obama poderá assinar unilateralmente o TPP do lado americano após Fevereiro, mas isso não significa que o caso esteja encerrado. Maira Sutton da Electronic Frontier Foundation explica:” As Câmaras do Congresso têm de ratificar o acordo através da aprovação de legislação que o implemente e que a Casa Branca submeta aos decisores políticos. Isto acontecerá após a assinatura do presidente, talvez em Abril ou Maio. Em seguida, a Câmara tem 60 dias para votar e o Senado outros 30. Serão portanto 90 dias ao todo para aprovar ou rejeitar o tratado… Tudo depende de o ramo executivo avaliar se dispõe de votos suficientes nas duas Câmaras. É exactamente por isso que que vamos apelar aos decisores políticos para o rejeitarem…

Sutton continua: “Se queremos ter a certeza de que as leis não servem apenas os interesses privados, mas são pensadas e implementadas com vista a salvaguardar o interesse público, então temos de parar o TPP em nome da NET, dos nossos direitos e do nosso futuro…”

O Japan Times afirmou parecer cada vez mais improvável que o tratado seja implementado ainda durante a administração Obama, devido à oposição por aparte de alguns candidatos e de algumas indústrias.”

– Trans-Atlantic Trade and Investment Partnership (TTIP) = EUA+ UE

Em Outubro, centenas de milhar de europeus vieram para as ruas expressar a sua oposição ao TTIP que irá abranger mais de 40% do PIB global e que terá graves implicações em tudo, desde os direitos humanos aos objectivos climáticos, à democracia, segurança alimentar e outros aspectos ainda mais graves. Tal como em Outubro, mais de 3 milhões de pessoas assinaram uma petição exigindo o fim das negociações do TTIP, mostrando como diz Nick Dearden do Global Justice Now que “a UE não tem mandato público para continuar este acordo”.

De facto, o descontentamento parece alastrar pelo continente. O presidente do parlamento alemão, o Bundestag, ameaçou em Outubro votar contra o TTIP devido á falta de transparência e de legitimidade democrática. Esta declaração seguiu-se a uma outra do ministro de comércio francês (Thomas Feckl) que afirmou:” A França está a equacionar todas as opções, incluindo o fim das negociações” devido ao facto de o tratado favorecer os interesses americanos.

Segundo afirmou Robert Kuttner, fundador e editor do American Prospect, este ano, tanto o TPP como o TTIP poderão “estar à beira do colapso devido aos seus próprios objectivos contraditórios e lógica interna incoerente”.

– Trade-in Services Agreement (TISA) = 32 países europeus, 7 asiáticos, 5 da A. do Norte, 3 da A. do Sul, 2 da Oceania e 1 da África.

O TISA é talvez o menos conhecido dos 3 grandes pactos estratégicos neoliberais avançados pela administração Obama, tal como afirma o Wikileaks…

Em 2015, documentos oriundos de fugas de informação expuseram a forma como o acordo favorece a privatização dos serviços públicos, limita a acção dos governos em assuntos que vão desde a segurança ao ambiente e que usam o comércio como cortina de fumo para restringir os direitos dos cidadãos, declarou em Junho Larry Cohen, presidente da Communication Workers of America.

O grupo “Our World is Not For Sale” afirmou em Julho que “os países desenvolvidos e as suas corporações pretendem listar os serviços que contornem a resistência do Sul Global a essa agenda no seio da OMC e fixar um acordo sobre serviços sem ter de se confrontar com as desigualdades na agricultura, propriedade intelectual, subsídios ao algodão e muitos outros problemas. Em 2016 temos esperança que o poder popular pressione os países a fazer como o Uruguay que decidiu abandonar as negociações em Setembro. Nessa altura, Viviana Barreto e Sam Cossar-Gilbert, activistas dos Friends of The Earth, escreveram a Common Dreams o seguinte:” O Uruguay criou um modelo para mostrar como derrotar estes acordos corporativos. Uma forte coligação de sindicatos, ambientalistas e agricultores trabalhando juntos numa vigorosa campanha pública, conseguiram derrotar os interesses das maiores companhias do mundo e sair vitoriosos “.

– Comprehensive Economic Trade Agreement (CETA) = Canadá + UE

“O que é mais interessante sobre o CETA é que os europeus têm poderes para o derrotar”, escreveu Sujata Rey, activista do Council of Canadians.

Como Commnon Dreams reportou em Outubro, o acordo UE- Canadá irá criar um sistema legal paralelo para as corporações que tornarão os regulamentos de sectores públicos sensíveis propensos a ataques de toda a espécie por parte dos investidores, como por exemplo, a água, saúde, educação, segurança social, pensões, etc.

Segundo afirmou o Corporate Europe Observatory com sede em Bruxelas, “o que está em jogo em tratados como o CETA ou o TTIP é o nosso direito ao acesso a serviços vitais e mais ainda, a gerir esses serviços para fornecer toda a espécie de benefícios à sociedade no seu conjunto. Se deixadas entregues a si próprias, as negociações tornarão impossível implementar decisões que visem o bem comum”.

De acordo com o Council of Canadians, espera-se que o CETA entre no Parlemento Europeu para ratificação nos fins de 2016 ou inícios de 2017. O P.M. Justin Trudeau já deu instruções à ministra do comércio Chrystia Freeland para implementar o CETA.

Deirdre Fulton, Common Dreams, 31/12/2015

www.commondreams.org/news/2015/12/31/corporate-friendly-trade-deals-threatening-ordinary-people-2016

Tradução e adaptação de José Oliveira