O conceito de comércio internacional justo é uma temática que tem ganhado cada vez mais relevância nas discussões económicas globais. Originado nos anos 60, o movimento pelo comércio justo busca promover uma relação comercial equitativa e sustentável, enfatizando a importância de preços justos e padrões sociais e ambientais equilibrados nas cadeias produtivas. Este movimento social e económico visa não apenas o estabelecimento de preços justos, mas também a promoção de condições de trabalho dignas e o respeito ao meio ambiente, colocando as pessoas e a sustentabilidade acima do lucro.
Recentemente, o célebre economista Angus Deaton, laureado com o Prémio Nobel em 2015, tem revisitado as suas visões sobre temas cruciais como sindicatos, comércio livre e imigração. Num contexto em que a economia enfrenta desafios e reavaliações, Deaton destaca a importância de repensar o papel dos economistas e as estruturas económicas vigentes. Ele argumenta que é necessário um novo olhar sobre questões como o poder no estabelecimento de preços e salários, a influência da política na mudança das regras do jogo e a consideração de filosofia e ética na Economia. Deaton enfatiza que, para entender a desigualdade e outros aspectos do capitalismo moderno, não se pode reduzir a análise económica apenas à eficiência técnica e ignorar a análise do poder e a reflexão sobre o bem-estar humano e a equidade.
Na sua análise recente da realidade norte-americana, Deaton reconhece que a diminuição do poder dos sindicatos contribuiu para a redução da parcela de rendimento destinada ao trabalho e para o aumento da disparidade salarial entre executivos e empregados. Ele argumenta que os sindicatos devem ter um papel activo nas discussões sobre tecnologias emergentes, como a inteligência artificial, para garantir que os interesses dos trabalhadores sejam considerados nas decisões que afectam o futuro do trabalho. Essas perspectivas de Deaton ressaltam a relevância dos sindicatos não apenas como defensores dos direitos dos trabalhadores, mas também como participantes essenciais no diálogo sobre o impacto das inovações tecnológicas na sociedade.
Num posicionamento que não se relaciona com as causas da TROCA, Deaton, anteriormente a favor da imigração nos EUA, agora expressa cepticismo. Ele sugere que a imigração pode ter contribuído para o aumento da desigualdade e questiona o impacto exclusivamente positivo que antes atribuía à imigração na economia americana. Ele destaca que, enquanto os empregadores beneficiam da mão-de-obra-barata proporcionada pela imigração, os trabalhadores domésticos de baixa qualificação podem enfrentar salários mais baixos e condições de trabalho precárias.
Deaton relaciona as suas preocupações sobre a imigração com as suas dúvidas sobre o livre comércio, que a TROCA partilha. Ele observa que o livre comércio, embora possa gerar riqueza, também pode exacerbar a desigualdade, especialmente quando não há redistribuição adequada dos ganhos do comércio.
A combinação dessas duas perspectivas destaca a complexidade e a interconexão entre comércio justo e as políticas económicas globais. Enquanto o comércio justo se foca em práticas comerciais mais éticas, sustentáveis e justas, o pensamento económico contemporâneo, representado por figuras como Deaton, chama a atenção para a necessidade de uma reflexão profunda sobre os fundamentos e os impactos das políticas económicas actuais, apelando à inclusão de preocupações características do comércio justo numa teoria económica moderna, do século XXI. Ambos os movimentos apontam para um futuro em que a economia global pode ser mais justa, inclusiva e responsável.